Inquérito investiga uso de água de depósito em aparelhos do hospital de Mogi Mirim
quinta-feira, 4 de outubro de 2012Durante as ações realizadas pelo interventor Roberto de Oliveira Junior na Santa Casa foi identificado o uso de água de depósito em aparelhos, o que gera risco de contaminação. O procedimento correto prevê o uso de água corrente.
Na tarde de 2 de outubro, Oliveira Junior esclareceu à A COMARCA que foi alertado por funcionários sobre a situação no início de setembro. “Não sabemos se houve contaminação, mas era utilizada água imprópria de uma caixa d’água, quando o indicado é o uso de água corrente para evitar acúmulo de bactérias”.
O interventor não revelou o setor do hospital onde teria acontecido o problema, alegando que o caso está sob sigilo policial. “É um setor do hospital que utiliza água pura para a limpeza dos equipamentos”, disse apenas.
O caso está sendo investigado pela Delegacia Seccional da cidade de Mogi Guaçu e pode configurar crime contra saúde pública se for comprovado que a água estava contaminada em razão do acúmulo. O delegado seccional, José Antonio Carlos de Souza, solicitou perícia técnica para apurar a denúncia.
Segundo o interventor, o hospital já recebeu peritos e as análises estão em andamento. “Pode ter havido infecção, complicações no quadro de pacientes e até morte. Isso é que está sendo apurado”, afirmou.
A decisão de utilizar água de depósito nos aparelhos teria partido do ex-diretor executivo, Ronaldo Carvalho. Segundo o interventor, a água de depósito era usada como opção quando o hospital excedia o consumo máximo que caracteriza isenção de pagamento do hidrômetro de água corrente. A economia mensal seria de cerca de R$ 2,5 mil. “Por esse valor, ele (Ronaldo) colocou vidas em jogo”, criticou.
“A decisão foi dele. Quem alertou nem sabia da gravidade disso”, disse Oliveira Junior. Ele afirmou que os médicos que atuam no hospital não tinham conhecimento do caso e que, por isso, não teriam apontado o problema.
O interventor também levantou suspeitas em relação ao volume de material de construção comprado na gestão do ex-diretor. “Tem material comprado que não se identificou para onde era. Muitos blocos de cimento, sendo que a obra em andamento, que é da Unidade de Nutrição, já está na fase de revestimento”, detalhou. Oliveira estranha o pagamento antecipado da obra à construtora. “Começou em dezembro de 2011 e foi paga em dezembro de 2010”.
Uma equipe de auditores fiscais da Prefeitura Municipal de Mogi Mirim está realizando auditoria nas contas do hospital. Segundo Oliveira Junior, a hipótese de auditoria terceirizada foi afastada porque não há recursos para essa contratação. Questionado se encontrou evidências de desvio financeiro no hospital, o interventor afirmou que “há indícios, mas é precipitado afirmar”.
A COMARCA voltou a questionar o interventor sobre a possibilidade de restringir a intervenção ao SUS (Sistema Único de Saúde), considerando a alegação da Prefeitura de que os recursos públicos são suficientes para essa ala do hospital. No entanto, Oliveira Junior novamente afastou a hipótese, sob o argumento de que a estrutura atual não permite. “O hospital é todo integrado, é um centro médico só, uma UTI só, as enfermeiras atendem indiscriminadamente o SUS e o particular, há um só almoxarifado de remédios”, enumerou.
“O SUS bem administrado é viável. Os recursos do SUS não bastaram para a gestão que estava aqui, pelas dívidas que fizeram. Como vou pagar R$ 9 milhões em dívida? A Justiça limitou a Unimed, mas não os custos”, reclamou. O interventor garantiu que a intervenção terá continuidade após as eleições. “Até que apareça uma pessoa mais competente e disposta a assumir”, disse.
Ele negou que a interventoria tenha desistido do recurso para derrubar a liminar que suspende o contrato com a Unimed. A informação chegou a ser aventada com a suspeita de que a intenção seria indispor os conveniados da Unimed com a mesa afastada. “Foi apresentado um agravo regimental ao Tribunal de Justiça, tentando suspender a liminar que afastou a Unimed”.
Questionado sobre possível reajuste aos serviços prestados pelos médicos, já que há defasagem nos valores pagos aos plantonistas, o interventor alegou inviabilidade. “Tudo depende do convênio com a Unimed. È preciso ter receita para reajustar”.
Fonte: A Comarca